De quipá, xale de orações, barba de profeta e chamado por
alguns de seus pastores de “sumo sacerdote”, o nome dado ao religioso supremo
do antigo povo de Israel. Edir Macedo fez uma mudança surpreendente na
narrativa da Igreja Universal do Reino de Deus, a maior confissão
neopentecostal do país, criada por ele.
Os elementos da religião judaica que o líder evangélico
passou a incorporar imprimem um novo significado à sua obra magna, o gigantesco
Templo de Salomão do Brás, inaugurado na semana passada. Uma vez que Macedo não
ficou louco, não rasga dinheiro nem pretende deixar de arrecadá-lo, a virada
judaicizante é analisada fora da Iurd à luz da carreira excepcionalmente
bem-sucedida do homem que partiu de zero para 1,9 milhão de fiéis em menos de
quatro décadas — com um pequeno encolhimento nos últimos anos, produto da
concorrência. “É uma estratégia de marketing. Ele quer recuperar o que já teve
e, fantasiado assim, dar uma nova guinada em sua teologia. Edir é conhecido por
não ter nenhuma coerência bíblica”, diz um dos maiores líderes evangélicos do
país, e concorrente de Macedo.
O Templo de Salomão, aberto com a presença da presidente
Dilma Rousseff e do governador paulista Geraldo Alckmin, é um sinal de que
Macedo pensa mais do que grande. O templo original, descrito na Bíblia, foi
erguido em Jerusalém no reino de Salomão, quase 1 000 anos antes de Cristo,
como a primeira construção permanente de louvor a Jeová, deus de Israel. Foi
destruído por Nabucodonosor, rei da Babilônia, e reconstruído em 516 a.C., sob
a designação conhecida como Segundo Templo. Na catástrofe seguinte, foram as
tropas do Império Romano que puniram uma rebelião não só arrasando o templo
como levando o povo judeu à diáspora. Um Terceiro Templo, místico ou real, é esperado
por judeus e cristãos que acreditam nas profecias sobre o fim dos tempos.
Enquanto isso não
acontece, mórmons, maçons e agora a Universal fazem suas versões.
Não é coisa pouca. No ano passado, Macedo falou da
grandiosidade de sua construção e aproveitou para passar o solidéu: “Pensem em
doar 10% — não é o dízimo — ao templo. Só a iluminação dele custou 22 milhões
de reais. Vai somando. As 10 000 cadeiras, mais 22 milhões. As pedras, que
vieram de Israel, 30 milhões. O som saiu por 10 milhões. Estamos fazendo tudo
do melhor. Amém, pessoal?”.
Via VEJA
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