Intenção da produção do programa é mostrar que Brasil é racista e machista, mas, na casa, são os supostos oprimidos quem humilham pessoas em nome de uma vaidade travestida de indignação
Há tempos o “Big Brother Brasil” se transformou uma plataforma de entretenimento político. Nada contra. Uma disputa por dinheiro, fama e projeção entre pessoas representativas da sociedade deve representar seu tempo. E o tempo é de polarização política, sobretudo de polarização política cultural. Vivemos numa guerra cultural. E o “BBB” tem lado nesta guerra. A produção do programa do qual participei é formada de militantes progressistas de esquerda que, ao lado da audiência, quer encampar uma narrativa de preconceito contra mulheres, negros, gays etc. Também quer projetar uma ideologia. Com a melhor das intenções, diga-se. Mas nem sempre a melhor das intenções é a mais certa. A questão é que, desde 2019, o programa traz para seu elenco militantes identitários. Eles são oriundos do movimento negro, feminismo e partidos de esquerda. Nenhum conservador esclarecido. Zero. Do outro lado do elenco, brucutus e barbies semialfabetizados que personificariam um pseuconservadorismo. Ainda assim, os brucutus e as barbies sempre ganham mais atenção do que os militantes. Por quê? Porque a militância tem se mostrado sistematicamente agressiva, chata e histérica. Cria preconceito onde não existe, impõe autoritariamente um padrão de comportamento e linguagem goela abaixo de outras pessoas. Uma militância que se coloca como um grupo de vítimas preferenciais em nome de um combate a um preconceito sempre inexistente na casa. É o retrato fiel da militância identitária brasileira. E mundial!
Neste “BBB 21”, vemos pessoas dizerem abertamente que o ”homem branco heterossexual” que se identifica com seu gênero sexual é o mal do mundo, uma ameaça às pessoas. Vemos um rapaz que levou um fora comparar a negativa da mulher branca ao Terceiro Reich. Vemos uma militante negra reclamar que a perda de suas estalecas (dinheiro no programa) é sintoma da mulher fenotipicamente branca que sempre leva vantagem. Vemos uma militante negra segregando e debochando de traços físicos de pessoas brancas. Vemos uma mulher negra humilhando, massacrando e expulsando um outro rapaz da mesa, e toda a plateia branca em redor se calar diante de tal monstruosidade por medo de ser considerada racista ao confrontá-la. Nada mais representativo do que a histeria identitária provocada por esta nova esquerda mundial, que separa pessoas entre vítimas preferenciais — negros, mulheres, gays e transexuais — e o homem branco heterossexual, o ”grande mal do mundo”. O identitarismo patológico não enxerga uma pessoa com virtudes e defeitos, mas coletivos que são julgados por sua etnia, sexualidade e gênero. Não tem como isto não reverberar em ódio, divisão e ressentimento. E o “BBB”, tentando mostrar um país em que homens brancos heterossexuais são opressores preferenciais, exibe o avesso do seu objetivo: uma militância monstruosa, que se coloca no lugar de vítima para poder massacrar outras pessoas sem sofrer retaliação.
Neste sentido, o “Big Brother” presta um serviço de educação, mostrando exatamente o cenário contrário do que a produção gostaria: o Brasil não é um país racista ou machista. O racismo, por exemplo, existe episodicamente, circunstancialmente. Em que pese haver, sim, racismo episódico e uma pirâmide social em que, sim, a cor negra é a base excluída, sobretudo por causa do período pós-escravidão, em que negros foram abandonados numa liberdade sem nenhuma garantia de trabalho, o Brasil é o país menos racista do mundo porque é o país mais miscigenado do mundo. Aqui a democracia racial prosperou. Sim, ainda existe racismo por cor da pele por aqui. Discriminação por cor da pele. Mas é raro. Existem homicidas e estupradores no Brasil. Mas é diferente de dizer que o Brasil é um país homicida ou um país de estupradores. Assim como é mentira dizer que é um país racista.
Por Adrilles Jorge
Nenhum comentário:
Postar um comentário